segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Estrelas...


"Permite que eu volte o meu rosto
para um céu maior que este mundo,
e aprenda a ser dócil no sonho
como as estrelas no seu rumo."

Cecília Meireles

“Escolhi a sombra de uma árvore para meditar
no muito que podia fazer enquanto te esperava.
Quem espera na pura esperança
Vive um tempo de espera qualquer.
Por isso enquanto te espero
Trabalharei nos campos e dialogarei com homens, mulheres e crianças,
Minhas mãos ficarão calosas,
Meus pés aprenderão os mistérios dos caminhos,
Meu corpo será queimado pelo sol,
Meus olhos verão o que nunca tinham visto,
Meus ouvidos escutarão ruídos antes despercebidos
Na difusa sonoridade de cada dia.
Desconfiarei daqueles que venham dizer
À sombra daquela árvore, prevenidos,
Que é perigoso esperar da forma que espero,
Que é perigoso caminhar,
Que é perigoso falar...
Porque eles rechaçam a alegria da tua chegada.
Desconfiarei também daqueles que venham me dizer,
À sombra desta árvore,
Que tu já chegaste,
Porque estes que te anunciam ingenuamente
Antes de denunciavam.
Esperarei por ti como o jardineiro
Que prepara o jardim para a rosa
Que se abrirá na primavera.”

Paulo Freire

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

A Menina e o Vento


...a menina pegou as pesadas pedras que avistou e as ajeitou perto do muro, uma a uma, sobrepondo-as. Depois, não com pouco esforço conseguiu subir sobre elas, debruçou-se sobre o muro e respirou fundo. A íngreme subida lhe causara alguns arranhões nos joelhos, as mãos ficaram esfoladas e o suor escorria-lhe sob o vestido. Mas valera a pena: agora ela podia enxergar melhor o que havia do outro lado.

Viu paisagens e pessoas, inúmeras pessoas que iam e vinha freneticamente. Nem se davam conta que pareciam o vento. E o vento...ah, o vento! Como a menina gostava do vento! Estando ali no alto podia senti-lo melhor roçando a sua face, bagunçando seus cabelos, envolvendo o seu corpo e cantarolando em seus ouvidos.

Mas não era por isso que as pessoas pareciam com o vento! As pessoas pareciam com o vento porque andavam tão depressa que nunca paravam, nem mesmo para se sentir, nem para sentir ... o vento.

Ficou perplexa!! Notou que as pessoas passavam inúmeras vezes pelos mesmos lugares, fazendo as mesmas coisas, cruzando umas com as outras diversas vezes e não se conheciam. Sequer se percebiam. Menos ainda ao vento...

Ficou perplexa de novo! Ela desejou não descer. Notou que, apesar de amar o mundo, preferia ficar ali...com o vento.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

MONODIÁLOGO das partes de um todo


- Qual parte estaria à parte?
- À parte?? Ah, sim...: a parte mais importante!

- E onde estaria a parte?
- A parte?...é claro... a parte estaria à parte!

- Ó parte, porque partiste? De ti algo restaste?
- Resta sim, não o todo, mas a parte!!

(Mas esta que ficou, o todo já não era.
E a outra, que partiu sem esta, o todo já não tinha...)

- Ó parte, porque partiste, sem o todo que te tinha?
- Agora já não és. Apenas caminhas...

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

No meio das galáxias mais distantes, lá, bem ao longe, vivia um pequeno menino.

Não era um menino como os outros. Ele não vivia no tempo, embora o tempo fosse o seu espaço. Ele tinha uma origem, mas desconhecia o seu começo. Sua história parecia uma brincadeira, feito essas histórias que nunca tem fim e sempre podem ser reinventadas.
Por causa disso o menino vivia a brincar, andarilhando por entre o Tempo e o Espaço, conversando com planetas e constelações. Vez por outra se recolhia para observar o movimento do universo e ficava horas e horas a contemplar a harmonia com que tudo funcionava, cada coisa em sua órbita, com tamanha exatidão, como uma interminável canção, daquelas que a gente escuta e nunca se cansa. Mas quando ele cansava, encostava a cabeça em alguma estrela e dormia...

Mas o pequeno menino gostava mesmo era de deixar a galáxia onde morava e percorrer o Espaço sem pressa, parando quando fosse necessário para admirar a beleza da criação. Ele fazia questão de conhecer não só as grandes galáxias e constelações pelas quais passava, mas sobretudo as estrelas mais pequeninas. Estas tinham o especial afeto de seu coração. Podia parecer inútil, sem fundamento... “Ora, com tantas coisas bonitas no universo, quem se importaria com estrelinhas”? - O pequeno menino!!- Ele gostava de visitar uma a uma, a ponto de conhecê-las pelo nome.

Certo dia, brincando, ele avistou ao longe uma Estrela. Era nova até então para o menino, mas sua figura distante o cativava de tal maneira que era como se nela existisse uma Presença escondida (embora ela parecesse estar tão longe que mal dava pra perceber o seu brilho!!). Então o menino colocou suas pequenas riquezas em uma sacola e viajou. Percorreu um longo trajeto, por milhares de anos luz, enfrentando todo o tipo de tempestades, provações e privações, orientado por aquele brilho simples e misterioso, até que alcançou-a.! Aquela havia sido sua mais longa jornada. Dava a impressão de ter durado toda uma vida...

Parou diante da Estrela, admirou-a e, inebriado pela misteriosa Presença, saboreou um silêncio eloqüente (pois Estrelas não falam com palavras!) que envolvia todo o seu ser. Era a mais doce harmonia que o menino ouvira em toda a sua vida. Desejava ele que aquele momento jamais cessasse. Quis ser um com ela. De repente, olhou para si mesmo, mas não mais se percebeu. Sem se importar, aninhou-se por ali . Ele estava exausto, porém feliz...