quinta-feira, 29 de janeiro de 2009
Licença de dormir
Eu quero uma licença de dormir,
perdão pra descansar horas a fio,
sem ao menos sonhar
a leve palha de um pequeno sonho.
Quero o que antes da vida
foi o sono profundo das espécies,
a graça de um estado.
Semente.
Muito mais que raízes.
.
(Adélia Prado)
O corpo dói. Cabeça, costas, pescoço, varizes. O corpo dói, mas o coração está feliz. Outrora o corpo estava bom, mas o coração doía. Já teve vezes de estar tudo bem, mas hoje o corpo, um pouco mais velho e maduro dói e queria mimos: cama, aconchego, cafuné, leite quentinho, quem sabe uma massagem.
Ontem cheguei em casa cedo, estava sozinha. Gosto incrivelmente de ficar comigo! também de ficar com Ele, o Altíssimo, num silêncio profundo e fecundo, sem muitas formalidades.
Fui me cuidar, me mimar um pouco, coisas que eu não fazia antigamente: banho demorado, hidratação nos cabelos, esfoliação na pele, creminho cheiroso, auto-massagem ouvindo chorinho (delícia!), pão com carne e catchup, whiski com guaraná, alongamento, dançar na frente do espelho...Lembrei da adolescência: época de colégio, amizades e hábitos esquisitos. Eu tinha meu lado "hippongo" que até hoje perdura em algumas situações : roupas estranhas que niguém gosta só eu (tá, hoje eu manero, quase não uso, mas gossssto!!) - bijuterias de artesanato (uso sempre, sempre, amooo) - estar sempre preparada pra dormir em qualquer canto (escova de dente na bolsa, fio dental (que não fico sem) e disposição para enfrentar desafios inesperados hahaha) - achar que todo mundo é bom, honesto, e confiável (e quebrar a cara "N" vezes, mas insisto em permanecer assim!!) - gostar de conhecer gente nova e já achar que são meus super-amigos (as vezes não dá certo!) - ser intensa, muito intensa!!!!
A gente amadurece, e isso é bom, aliás ótimo. Algumas coisas necessariamente mudam, a gente se cuida mais, se perdoa mais, se admira mais, alguns hábitos que você nunca imaginou passam a fazer parte da rotina (creminho anti-rugas e hidratante todo dia porque a pele não é mais a mesma, controlar o doce e os carboidratos porque o metabolismo fica mais lento, a maldita depilação que dói horrores mas a gente faz pra ficar bonita, manter o glamour e o sorriso quando se quer mandar determinada pessoa à m..., saber - e acreditar de verdade - que quando a tpm passar tudo voltará a ser como antes, sobretudo você mesma..hoahaohaohaoahohaoahaohaoao)!
Eita, viver é bom demais! Por mais que o corpo esteja dolorido, o coração está cantando...
Beijocas!
quarta-feira, 28 de janeiro de 2009
Espelho
Assim somos nós: um emaranhado de pensamentos que carregam os sinais do passado, feito mar em dia de ressaca; feito vento que nos leva a direções nunca antes imaginadas; feito sol que diariamente morre para renascer de novo, com mais brilho e esperança...
És intenso, como eu. Tem horas que pareço me olhar no espelho...Deus meu! Mas o tempo e as vicissitudes da vida me ensinaram a buscar um pouco mais de equilíbrio: saber calar, ouvir mais atentamente, observar o que se passa por dentro e por fora, em mim e nos outros, ter paciência.
Tens medo, eu também. Ninguém deseja sangrar por dentro mais uma vez. As dores passam, o mal é perdoado, mas a memória fica viva e é ela quem nos mete num cárcere, se assim permitirmos.
A vida e o tempo (enquanto dádivas do Altíssimo) sempre se encarregam de nos dar as oportunidades necessárias: refazer algo, superar um trauma, transpor algum limite, colocar um ponto final em algo que teima em incomodar, susbtituir um registro interior negativo por um positivo, amar mais e melhor, perdoar e perdoar-se, abraçar o novo... enfim, ser feliz!
Revelação - Lya Luft
Quando chegaste,
redescobri em mim inocência e alegria.
Removi a máscara que sobrava:
nada havia a esconder de ti,
nem medo - a não se partires.
Supérfluas as palavras,
dispensada a aparência, fiquei eu,
sem prumo,
como antes da primeira dúvida
e do ultimo desencanto.
Quando chegaste,
escutei meu nome como num outro tempo.
o meu lado da sombra entregou
o que ninguém via:
as feridas sem cura e a esperança sem rumo.
Começa a crer, por mim, que o amor é possível,
e que a vida vale a pena e o pranto
de cada dia.
terça-feira, 27 de janeiro de 2009
Ensaio sobre a Amizade, por Lya Luft
"Nesta página, hoje, sem razão especial
nem data marcada, estou homenageando
aqueles que têm estado comigo seja
como for, para o que der e vier"
Talvez seja um bom critério. Não digo de escolha, pois amor é instinto e intuição, mas uma dessas opções mais profundas, arcaicas, que a gente faz até sem saber, para ser feliz ou para se destruir. Eu não quereria como parceiro de vida quem não pudesse querer como amigo. E amigos fazem parte de meus alicerces emocionais: são um dos ganhos que a passagem do tempo me concedeu. Falo daquela pessoa para quem posso telefonar, não importa onde ela esteja nem a hora do dia ou da madrugada, e dizer: "Estou mal, preciso de você". E ele ou ela estará comigo pegando um carro, um avião, correndo alguns quarteirões a pé, ou simplesmente ficando ao telefone o tempo necessário para que eu me recupere, me reencontre, me reaprume, não me mate, seja lá o que for.
Mais reservada do que expansiva num primeiro momento, mais para tímida, tive sempre muitos conhecidos e poucas, mas reais, amizades de verdade, dessas que formam, com a família, o chão sobre o qual a gente sabe que pode caminhar. Sem elas, eu provavelmente nem estaria aqui. Falo daquelas amizades para as quais eu sou apenas eu, uma pessoa com manias e brincadeiras, eventuais tristezas, erros e acertos, os anos de chumbo e uma generosa parte de ganhos nesta vida. Para eles não sou escritora, muito menos conhecida de público algum: sou gente.
A amizade é um meio-amor, sem algumas das vantagens dele mas sem o ônus do ciúme – o que é, cá entre nós, uma bela vantagem. Ser amigo é rir junto, é dar o ombro para chorar, é poder criticar (com carinho, por favor), é poder apresentar namorado ou namorada, é poder aparecer de chinelo de dedo ou roupão, é poder até brigar e voltar um minuto depois, sem ter de dar explicação nenhuma. Amiga é aquela a quem se pode ligar quando a gente está com febre e não quer sair para pegar as crianças na chuva: a amiga vai, e pega junto com as dela ou até mesmo se nem tem criança naquele colégio.
Amigo é aquele a quem a gente recorre quando se angustia demais, e ele chega confortando, chamando de "minha gatona" mesmo que a gente esteja um trapo. Amigo, amiga, é um dom incrível, isso eu soube desde cedo, e não viveria sem eles. Conheci uma senhora que se vangloriava de não precisar de amigos: "Tenho meu marido e meus filhos, e isso me basta". O marido morreu, os filhos seguiram sua vida, e ela ficou num deserto sem oásis, injuriada como se o destino tivesse lhe pregado uma peça. Mais de uma vez se queixou, e nunca tive coragem de lhe dizer, àquela altura, que a vida é uma construção, também a vida afetiva. E que amigos não nascem do nada como frutos do acaso: são cultivados com... amizade. Sem esforço, sem adubos especiais, sem método nem aflição: crescendo como crescem as árvores e as crianças quando não lhes faltam nem luz nem espaço nem afeto.
Quando em certo período o destino havia aparentemente tirado de baixo de mim todos os tapetes e perdi o prumo, o rumo, o sentido de tudo, foram amigos, amigas, e meus filhos, jovens adultos já revelados amigos, que seguraram as pontas. E eram pontas ásperas aquelas. Agüentei, persisti, e continuei amando a vida, as pessoas e a mim mesma (como meu amado amigo Erico Verissimo, "eu me amo mas não me admiro") o suficiente para não ficar amarga. Pois, além de acreditar no mistério de tudo o que nos acontece, eu tinha aqueles amigos. Com eles, sem grandes conversas nem palavras explícitas, aprendi solidariedade, simplicidade, honestidade, e carinho.
Nesta página, hoje, sem razão especial nem data marcada, estou homenageando aqueles, aquelas, que têm estado comigo seja como for, para o que der e vier, mesmo quando estou cansada, estou burra, estou irritada ou desatinada, pois às vezes eu sou tudo isso, ah!, sim. E o bom mesmo é que na amizade, se verdadeira, a gente não precisa se sacrificar nem compreender nem perdoar nem fazer malabarismos sexuais nem inventar desculpas nem esconder rugas ou tristezas. A gente pode simplesmente ser: que alívio, neste mundo complicado e desanimador, deslumbrante e terrível, fantástico e cansativo. Pois o verdadeiro amigo é confiável e estimulante, engraçado e grave, às vezes irritante; pode se afastar, mas sabemos que retorna; ele nos agüenta e nos chama, nos dá impulso e abrigo, e nos faz ser melhores: como o verdadeiro amor.
sexta-feira, 23 de janeiro de 2009
aprendi!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Aprendi a postar vídeos no blog!
Agora aguentem...rsrsrsrs
(Falta ainda descobrir como colocar no lado direito os liks dos blogs que eu gosto muito, mas devagarinho chego lá...)
bacchi,
Grazi
Agora aguentem...rsrsrsrs
(Falta ainda descobrir como colocar no lado direito os liks dos blogs que eu gosto muito, mas devagarinho chego lá...)
bacchi,
Grazi
quinta-feira, 22 de janeiro de 2009
Solo el amor con su ciencia nos vuelve tan inocentes
...Voltar à ser, de repente,
tão frágil em um segundo,
Voltar à sentir-se importante
como uma criança diante à Deus
Isso é o que sinto eu neste grande momento .
O amor é repleto de uma pureza original...
Até um feroz animal sussurra ao seu doce trino.
Detêm os peregrinos, libera os prisioneiros,
O amor com seus esmeros, volta o velho à criança,
E ao mal, só o carinho lhe transforma em puro e sincero.
Só o amor com sua ciência nos faz novamente tão inocentes...
terça-feira, 20 de janeiro de 2009
O vento da vida pôs-te ali...
Tu eras também uma pequena folha
que tremia no meu peito.
O vento da vida pôs-te ali.
A princípio não te vi: não soube
que ias comigo,
até que as tuas raízes
atravessaram o meu peito,
se uniram aos fios do meu sangue,
falaram pela minha boca,
floresceram comigo.
Pablo Neruda
Neruda, ah Neruda ... tão lindamente cantas o amor (com uma precisão metafórica inigualável) que me faz crer que não há um homem sequer neste mundo que não tenha descoberto e experimentado dentro de si, da forma que for, a poesia. Mesmo que esta jamais venha a ser dada à luz...
segunda-feira, 19 de janeiro de 2009
Verão na sala - Clarice Lispector
Com o leque ela pensa alguma coisa. Ela pensa o leque e com o leque se abana. E com o leque fecha de súbito o pensamento num estalido, vazia, sorridente, rígida, ausente. O leque distraído e aberto no peito. “A vida é mesmo engraçada”, concorda ela como visita que é recebida na sala de visitas. Mas num alvoroço controlado, eis que se abana de súbito com mil asas de pardal.
terça-feira, 13 de janeiro de 2009
(imagem do filme "O Carteiro e o Poeta", um dos meus preferidos)
Hoje acordei com vontade de ficar bem mais tempo na cama,
de comer alguma coisa que eu ainda não sei o que é,
de ler os poemas de Neruda,
de ficar sentindo o vento, fresquinho, batendo na minha pele
enquanto eu estivesse ouvindo o silêncio, a sós com Deus.
.
Estou no escritório,
está muito calor,
e eu já sei de cor e salteado o cardápio do restaurante vegetariano que eu almoço!
Ainda bem que um dos desejos eu posso pegar com a mão...
O Vento na Ilha - Pablo Nerruda
O vento é um cavalo
Ouça como ele corre
Pelo mar, pelo céu.
Quer me levar: escuta
como recorre ao mundo
para me levar para longe.
Me esconde em teus braços
por somente esta noite,
enquanto a chuva rompe
contra o mar e a terra
sua boca inumerável.
Escuta como o vento
me chama galopando
para me levar para longe.
Com tua frente a minha frente,
com tua boca em minha boca,
atados nossos corpos
ao amor que nos queima,
deixa que o vento passe
sem que possa me levar.
Deixa que o vento corra
coroado de espuma,
que me chame e me busque
galopando na sombra,
entretanto eu, emergido
debaixo teus grandes olhos,
por somente esta noite
descansarei, amor meu.
Hoje acordei com vontade de ficar bem mais tempo na cama,
de comer alguma coisa que eu ainda não sei o que é,
de ler os poemas de Neruda,
de ficar sentindo o vento, fresquinho, batendo na minha pele
enquanto eu estivesse ouvindo o silêncio, a sós com Deus.
.
Estou no escritório,
está muito calor,
e eu já sei de cor e salteado o cardápio do restaurante vegetariano que eu almoço!
Ainda bem que um dos desejos eu posso pegar com a mão...
O Vento na Ilha - Pablo Nerruda
O vento é um cavalo
Ouça como ele corre
Pelo mar, pelo céu.
Quer me levar: escuta
como recorre ao mundo
para me levar para longe.
Me esconde em teus braços
por somente esta noite,
enquanto a chuva rompe
contra o mar e a terra
sua boca inumerável.
Escuta como o vento
me chama galopando
para me levar para longe.
Com tua frente a minha frente,
com tua boca em minha boca,
atados nossos corpos
ao amor que nos queima,
deixa que o vento passe
sem que possa me levar.
Deixa que o vento corra
coroado de espuma,
que me chame e me busque
galopando na sombra,
entretanto eu, emergido
debaixo teus grandes olhos,
por somente esta noite
descansarei, amor meu.
quarta-feira, 7 de janeiro de 2009
...íamos sozinhos por estradas diferentes...
MEU DESTINO - Cora Coralina
"Nas palmas de tuas mãos
leio as linhas da minha vida.
Linhas cruzadas, sinuosas,
interferindo no teu destino.
Não te procurei, não me procurastes
– íamos sozinhos por estradas diferentes.
Indiferentes, cruzamos
Passavas com o fardo da vida...
Corri ao teu encontro.
Sorri. Falamos.
Esse dia foi marcado
com a pedra branca
da cabeça de um peixe.
E, desde então, caminhamos
juntos pela vida..."
.
(é, a vida nos surpreende enquanto caminhamos,
de começo à começo, por começos que não têm fim!)
terça-feira, 6 de janeiro de 2009
Assinar:
Postagens (Atom)