quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Olá... separô pra pensar o que agente faria se não houvesse a poesia...


Recebi da amiga Vanessa em Abril de 2007.

É tão linda quanto o coração dela...



"PRECISA-SE"

Sendo este um jornal por excelência, e por excelência dos precisa-se e oferece-se, vou pôr um anúncio em negrito: precisa-se de alguém homem ou mulher que ajude uma pessoa a ficar contente porque esta está tão contente que não pode ficar sozinha com a alegria, e precisa reparti-la. Paga-se extraordinariamente bem: minuto por minuto paga-se com a própria alegria. É urgente pois a alegria dessa pessoa é fugaz como estrelas cadentes, que até parece que só se as viu depois que tombaram; precisa-se urgente antes da noite cair porque a noite é muito perigosa e nenhuma ajuda é possível e fica tarde demais. Essa pessoa que atenda ao anúncio só tem folga depois que passa o horror do domingo que fere. Não faz mal que venha uma pessoa triste porque a alegria que se dá é tão grande que se tem que a repartir antes que se transforme em drama. Implora-se também que venha, implora-se com a humildade da alegria-sem-motivo. Em troca oferece-se também uma casa com todas as luzes acesas como numa festa de bailarinos. Dá-se o direito de dispor da copa e da cozinha, e da sala de estar. P.S. Não se precisa de prática. E se pede desculpa por estar num anúncio a dilarecerar os outros. Mas juro que há em meu rosto sério uma alegria até mesmo divina para dar.

Clarice Lispector

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Silêncio



Aqui estão fragmentos de um texto que me elevou e me levou a tatear minhas raízes.



Paz e alegria!




"O silêncio dar-nos-á Deus? Há um silêncio que dá Deus. Qual silêncio? Não é o silêncio do homem, esse que o homem encontra entre os homens, esse em que o homem pode iniciar-se. É o silêncio da alma que se recolhe, da alma que escuta Deus, e a quem Deus fala. Deus fala àqueles que se calam, que reservam tempo para o ouvir e o esperar. “Deus não fala aos faladores”. No entanto, neste silêncio da alma, o homem tem três hipóteses: ou a palavra de Deus vem ao seu encontro, lhe dá alegria; ou o silêncio de Deus o esmaga; ou ele é iniciado no silêncio de Deus.É portanto Deus que nos dá aquele silêncio que nos dá Deus. Ele dá-se no silêncio que nós lhe damos e que Ele nos dá. O silêncio é uma graça. Do silêncio do homem, cuja misteriosa ambiguidade nos vai aparecer, nós chegaremos ao silêncio da alma. E tomando o silêncio de Deus, alcançaremos o Deus do silêncio.


O silêncio está ligado a todas as fraquezas do homem; é instrumento dos seus pecados. Pelo silêncio o homem se destrói.Mas é também pelo silêncio que o homem cria e manifesta a sua força e constrói a mansão das suas virtudes; da prudência, pelo silêncio da discrição e da medida; da temperança, pelo silêncio dos seus sentimentos inconfessados; da força, pelo silêncio da paciência; da justiça, pelo silêncio do juízo; da humildade e do apagamento. Já dentro do templo das virtudes cardiais, é ainda pelo silêncio que o homem é introduzido no santuário das virtudes teologais: da fé, pelo silêncio da razão que reconhece os seus limites e se abre a uma luz mais alta; da esperança, pelo silêncio da expectativa, que, no desprendimento dos bens terrenos, aspira aos bens eternos; da caridade, pela união com Deus na oração e na dedicação aos outros.


No silêncio, a alma fala consigo mesma. O diálogo não é senão um aspecto dessa vida interior. O silêncio preenche uma função mais alta. Se não se fala com os homens é para falar com Deus, para falar dos homens a Deus, a fim de, em seguida, poder falar de Deus aos homens. O silêncio, por amor da palavra interior, para ouvir a palavra de Deus, para preparar a palavra acerca de Deus.


A Igreja - às almas, a cada uma das almas -, Deus continua a falar pela Escritura. Aquele que quer ouvir palavras de Deus abra a sua Bíblia! E meditará essas palavras cuja verdade não passa (Mat., xxiv, 35), cuja profundidade é inesgotável para o espírito e para a vida (João, vi, 64). A substância delas, ele a assimilará como a um alimento (Ezequiel, III, 1). No seu coração as conservará como uma presença (Lucas, I, 19). Através das provações, confortá-lo-ão (Rom., xv, 4).


Será exato que Deus não fala às almas? Ele fala por meio de uma luz que subitamente clarifica o horizonte, por meio de uma força que quebra uma tentação e mantém um entusiasmo; por meio de uma amizade que se oferece num momento de isolamento, por meio de uma separação que nos desperta e nos projecta em Deus, por meio de uma doença que nos separa do mundo, por meio de uma leitura que apazigua e conforta, por meio de uma série de acontecimentos providenciais, por meio de um insucesso que nos vem barrar uma estrada perigosa, ou de um êxito que nos abre um caminho de apostolado. “É preciso que entremos em nós próprios e procuremos em nós aquele que nunca nos deixa e nos ilumina sempre. Ele fala baixo, mas a sua voz é distinta; ilumina pouco, mas a sua luz é pura” (39). A quem sabe e quer ler, não faltam os sinais. É o homem que falta aos sinais. Perde-se a fé - costuma-se dizer - porque Deus se cala. Pelo contrário: é porque se perdeu a fé que não se pode já ouvi-lo e não se quer já dar-lhe atenção. Discípulos de Emaús, que, em lugar de serem filhos da Ressurreição, são ainda os discípulos desamparados da Sexta-Feira Santa!


Ao silêncio de Deus dos ateus, opõem os místicos o Deus do silêncio, o Deus que é espírito e que se manifestava a Elias num murmúrio dulcíssimo e sutil.


O silêncio é uma ciência que se aprende, uma sabedoria que se adquire, uma experiência que se vive, mas, antes de tudo, um amor que se dá. O silêncio está reservado aos pequenos, aos pobres do Senhor."


Pierre Blanchard


Leia na íntegra (vale mesmo a pena!!!) em:

http://www.quadrante.com.br/Pages/servicos02.asp?id=144&categoria=Espiritualidade&tubcategoria=#

Metade




Esse poema do Oswaldo Montenegro me fala por demais.
Me vejo estampada em muitas desses versos.
É que muitas vezes percebo-me assim, em "metades".
O que de fato é e o que, debilmente, consigo expressar disso.

Deixo aqui pra compartilhar:





"Que a força do medo que tenho não me impeça de ver o que anseio.


Que a morte de tudo que acredito não me tape os ouvidos e a boca.


Porque metade de mim é o que eu grito, mas a outra metade é silêncio.


Que a música que eu ouço ao longe seja linda, ainda que tristeza.


Que a mulher que eu amo seja sempre amada, mesmo que distante.


Porque metade de mim é partida e a outra metade é saudade.


Que as palavras que eu falo não sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor.


Apenas respeitadas como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimento.


Porque metade de mim é o que eu ouço, mas a outra metade é o que calo.


Que essa minha vontade de ir embora se transforme na calma e na paz que eu mereço.


Que essa tensão que me corrói por dentro seja um dia recompensada.


Porque metade de mim é o que eu penso e a outra metade é um vulcão.


Que o medo da solidão se afaste, que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.


Que o espelho reflita em meu rosto o doce sorriso que eu me lembro de ter dado na infância.



Porque metade de mim é a lembrança do que fui, a outra metade eu não sei...


Que não seja preciso mais do que uma simples alegria para me fazer aquietar o espírito.


E que o teu silêncio me fale cada vez mais.


Porque metade de mim é abrigo, mas a outra metade é cansaço.


Que a arte nos aponte uma resposta, mesmo que ela não saiba.


E que ninguém a tente complicar porque é preciso simplicidade para fazê-la florescer.


Porque metade de mim é a platéia e a outra metade, a canção.


E que minha loucura seja perdoada.Porque metade de mim é amor e a outra metade... também."