quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Metade




Esse poema do Oswaldo Montenegro me fala por demais.
Me vejo estampada em muitas desses versos.
É que muitas vezes percebo-me assim, em "metades".
O que de fato é e o que, debilmente, consigo expressar disso.

Deixo aqui pra compartilhar:





"Que a força do medo que tenho não me impeça de ver o que anseio.


Que a morte de tudo que acredito não me tape os ouvidos e a boca.


Porque metade de mim é o que eu grito, mas a outra metade é silêncio.


Que a música que eu ouço ao longe seja linda, ainda que tristeza.


Que a mulher que eu amo seja sempre amada, mesmo que distante.


Porque metade de mim é partida e a outra metade é saudade.


Que as palavras que eu falo não sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor.


Apenas respeitadas como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimento.


Porque metade de mim é o que eu ouço, mas a outra metade é o que calo.


Que essa minha vontade de ir embora se transforme na calma e na paz que eu mereço.


Que essa tensão que me corrói por dentro seja um dia recompensada.


Porque metade de mim é o que eu penso e a outra metade é um vulcão.


Que o medo da solidão se afaste, que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.


Que o espelho reflita em meu rosto o doce sorriso que eu me lembro de ter dado na infância.



Porque metade de mim é a lembrança do que fui, a outra metade eu não sei...


Que não seja preciso mais do que uma simples alegria para me fazer aquietar o espírito.


E que o teu silêncio me fale cada vez mais.


Porque metade de mim é abrigo, mas a outra metade é cansaço.


Que a arte nos aponte uma resposta, mesmo que ela não saiba.


E que ninguém a tente complicar porque é preciso simplicidade para fazê-la florescer.


Porque metade de mim é a platéia e a outra metade, a canção.


E que minha loucura seja perdoada.Porque metade de mim é amor e a outra metade... também."


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