quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Silêncio



Aqui estão fragmentos de um texto que me elevou e me levou a tatear minhas raízes.



Paz e alegria!




"O silêncio dar-nos-á Deus? Há um silêncio que dá Deus. Qual silêncio? Não é o silêncio do homem, esse que o homem encontra entre os homens, esse em que o homem pode iniciar-se. É o silêncio da alma que se recolhe, da alma que escuta Deus, e a quem Deus fala. Deus fala àqueles que se calam, que reservam tempo para o ouvir e o esperar. “Deus não fala aos faladores”. No entanto, neste silêncio da alma, o homem tem três hipóteses: ou a palavra de Deus vem ao seu encontro, lhe dá alegria; ou o silêncio de Deus o esmaga; ou ele é iniciado no silêncio de Deus.É portanto Deus que nos dá aquele silêncio que nos dá Deus. Ele dá-se no silêncio que nós lhe damos e que Ele nos dá. O silêncio é uma graça. Do silêncio do homem, cuja misteriosa ambiguidade nos vai aparecer, nós chegaremos ao silêncio da alma. E tomando o silêncio de Deus, alcançaremos o Deus do silêncio.


O silêncio está ligado a todas as fraquezas do homem; é instrumento dos seus pecados. Pelo silêncio o homem se destrói.Mas é também pelo silêncio que o homem cria e manifesta a sua força e constrói a mansão das suas virtudes; da prudência, pelo silêncio da discrição e da medida; da temperança, pelo silêncio dos seus sentimentos inconfessados; da força, pelo silêncio da paciência; da justiça, pelo silêncio do juízo; da humildade e do apagamento. Já dentro do templo das virtudes cardiais, é ainda pelo silêncio que o homem é introduzido no santuário das virtudes teologais: da fé, pelo silêncio da razão que reconhece os seus limites e se abre a uma luz mais alta; da esperança, pelo silêncio da expectativa, que, no desprendimento dos bens terrenos, aspira aos bens eternos; da caridade, pela união com Deus na oração e na dedicação aos outros.


No silêncio, a alma fala consigo mesma. O diálogo não é senão um aspecto dessa vida interior. O silêncio preenche uma função mais alta. Se não se fala com os homens é para falar com Deus, para falar dos homens a Deus, a fim de, em seguida, poder falar de Deus aos homens. O silêncio, por amor da palavra interior, para ouvir a palavra de Deus, para preparar a palavra acerca de Deus.


A Igreja - às almas, a cada uma das almas -, Deus continua a falar pela Escritura. Aquele que quer ouvir palavras de Deus abra a sua Bíblia! E meditará essas palavras cuja verdade não passa (Mat., xxiv, 35), cuja profundidade é inesgotável para o espírito e para a vida (João, vi, 64). A substância delas, ele a assimilará como a um alimento (Ezequiel, III, 1). No seu coração as conservará como uma presença (Lucas, I, 19). Através das provações, confortá-lo-ão (Rom., xv, 4).


Será exato que Deus não fala às almas? Ele fala por meio de uma luz que subitamente clarifica o horizonte, por meio de uma força que quebra uma tentação e mantém um entusiasmo; por meio de uma amizade que se oferece num momento de isolamento, por meio de uma separação que nos desperta e nos projecta em Deus, por meio de uma doença que nos separa do mundo, por meio de uma leitura que apazigua e conforta, por meio de uma série de acontecimentos providenciais, por meio de um insucesso que nos vem barrar uma estrada perigosa, ou de um êxito que nos abre um caminho de apostolado. “É preciso que entremos em nós próprios e procuremos em nós aquele que nunca nos deixa e nos ilumina sempre. Ele fala baixo, mas a sua voz é distinta; ilumina pouco, mas a sua luz é pura” (39). A quem sabe e quer ler, não faltam os sinais. É o homem que falta aos sinais. Perde-se a fé - costuma-se dizer - porque Deus se cala. Pelo contrário: é porque se perdeu a fé que não se pode já ouvi-lo e não se quer já dar-lhe atenção. Discípulos de Emaús, que, em lugar de serem filhos da Ressurreição, são ainda os discípulos desamparados da Sexta-Feira Santa!


Ao silêncio de Deus dos ateus, opõem os místicos o Deus do silêncio, o Deus que é espírito e que se manifestava a Elias num murmúrio dulcíssimo e sutil.


O silêncio é uma ciência que se aprende, uma sabedoria que se adquire, uma experiência que se vive, mas, antes de tudo, um amor que se dá. O silêncio está reservado aos pequenos, aos pobres do Senhor."


Pierre Blanchard


Leia na íntegra (vale mesmo a pena!!!) em:

http://www.quadrante.com.br/Pages/servicos02.asp?id=144&categoria=Espiritualidade&tubcategoria=#

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