segunda-feira, 10 de dezembro de 2007


“Escolhi a sombra de uma árvore para meditar
no muito que podia fazer enquanto te esperava.
Quem espera na pura esperança
Vive um tempo de espera qualquer.
Por isso enquanto te espero
Trabalharei nos campos e dialogarei com homens, mulheres e crianças,
Minhas mãos ficarão calosas,
Meus pés aprenderão os mistérios dos caminhos,
Meu corpo será queimado pelo sol,
Meus olhos verão o que nunca tinham visto,
Meus ouvidos escutarão ruídos antes despercebidos
Na difusa sonoridade de cada dia.
Desconfiarei daqueles que venham dizer
À sombra daquela árvore, prevenidos,
Que é perigoso esperar da forma que espero,
Que é perigoso caminhar,
Que é perigoso falar...
Porque eles rechaçam a alegria da tua chegada.
Desconfiarei também daqueles que venham me dizer,
À sombra desta árvore,
Que tu já chegaste,
Porque estes que te anunciam ingenuamente
Antes de denunciavam.
Esperarei por ti como o jardineiro
Que prepara o jardim para a rosa
Que se abrirá na primavera.”

Paulo Freire

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