terça-feira, 14 de outubro de 2008

Sou multidão

(a tela é de Rob Gonsalves, um pintor surrelista que conheci recentemente e gostei bastante!!)
No último dia 6/10 eu completei 28 aninhos de nascida...
Eu amo fazer aniversário! Pra mim sempre é uma data especial, sem que seja necessário haver festa e presentes. Eu me sinto feliz “só” em celebrar a vida! Viver é algo bom demais, e eu sou profundamente grata por este dom! O que me deixa mais feliz é ver que muitos amigos e amigas de uma forma ou de outra estiveram a celebrar comigo o meu dia, seja por um cartão, um email, um torpedo, uma ligação, um recado no orkut, um abraço carinhoso, uma música, uma visita... e isso me faz pensar ainda mais no sentido da vida, da minha vida. Não, definitivamente ela não é um conto de fadas onde não existem problemas difíceis de ser resolvidos, dívidas, TPM e outras coisinhas mais, mas é a minha vida, que nenhum homem ou mulher de nenhum outro tempo viveu ou irá viver, e que eu procuro saborear cultivando as virtudes, a paz e o bem. Aquela história de “faça o melhor que puder com a vida que Deus lhe deu” tem mais sentido quando a gente percebe que a nossa vida também tem sentido pra outras pessoas que amamos!


Fazendo uma pequena retrospectiva, eu olho pra minha história e a vejo tanta coisa boa e bonita, tanta gente que passou por mim e me fez crescer, seja pelo amor, seja pela dor...neste sentido eu poderia dizer que “sou uma multidão”: multidão de sentimentos, de pessoas queridas, de afetos, de desafetos (procuro não cultivá-los, mas querendo ou não eles acontecem!), de pensamentos, de opiniões, de medos, de dores, de lágrimas, de conquistas, de dúvidas (e de dívidas!!), de anseios, de buscas, de perdas, de encontros, de decepções, de erros, de vitórias, de aprendizados, de experiências, de esperanças, de amor...MULTIDÃO DE AMOR!!


Quando falo de “amor”, evoco antigo conceito grego que enxerga o amor de três diferentes formas: o EROS, que seria o amor de desejo,o amor entre um homem e uma mulher, o amor “carnal” por assim dizer; PHILIA, que seria o amor amizade; e o ÀGAPE que seria o amor que se doa, se entrega, amor de plenitude, o amor com que Deus nos ama e que somos chamados a amá-lo, e também aos irmãos.... Pra explicar melhor recomendo ler a encíclica Deus caritas est em http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/encyclicals/documents/hf_ben-xvi_enc_20051225_deus-caritas-est_po.html, onde sobretudo na primeira parte Bento XVI trata do assunto com maestria...dali tiro este pedacinho:


“Faz parte da evolução do amor para níveis mais altos, para as suas íntimas purificações, que ele procure agora o carácter definitivo, e isto num duplo sentido: no sentido da exclusividade — « apenas esta única pessoa » — e no sentido de ser « para sempre ». O amor compreende a totalidade da existência em toda a sua dimensão, inclusive a temporal. Nem poderia ser de outro modo, porque a sua promessa visa o definitivo: o amor visa a eternidade. Sim, o amor é « êxtase »; êxtase, não no sentido de um instante de inebriamento, mas como caminho, como êxodo permanente do eu fechado em si mesmo para a sua libertação no dom de si e, precisamente dessa forma, para o reencontro de si mesmo, mais ainda para a descoberta de Deus... . A este respeito, fomos dar com duas palavras fundamentais: eros como termo para significar o amor « mundano » e agape como expressão do amor fundado sobre a fé e por ela plasmado. As duas concepções aparecem frequentemente contrapostas como amor « ascendente » e amor « descendente ». Existem outras classificações afins como, por exemplo, a distinção entre amor possessivo e amor oblativo (amor concupiscentiæ – amor benevolentiæ), à qual, às vezes, se acrescenta ainda o amor que procura o próprio interesse.... Na realidade, eros e agape — amor ascendente e amor descendente — nunca se deixam separar completamente um do outro. Quanto mais os dois encontrarem a justa unidade, embora em distintas dimensões, na única realidade do amor, tanto mais se realiza a verdadeira natureza do amor em geral. Embora o eros seja inicialmente sobretudo ambicioso, ascendente — fascinação pela grande promessa de felicidade — depois, à medida que se aproxima do outro, far-se-á cada vez menos perguntas sobre si próprio, procurará sempre mais a felicidade do outro, preocupar-se-á cada vez mais dele, doar-se-á e desejará « existir para » o outro. Assim se insere nele o momento da agape; caso contrário, o eros decai e perde mesmo a sua própria natureza. Por outro lado, o homem também não pode viver exclusivamente no amor oblativo, descendente. Não pode limitar-se sempre a dar, deve também receber. Quem quer dar amor, deve ele mesmo recebê-lo em dom. Certamente, o homem pode — como nos diz o Senhor — tornar-se uma fonte donde correm rios de água viva (cf. Jo 7, 37-38); mas, para se tornar semelhante fonte, deve ele mesmo beber incessantemente da fonte primeira e originária que é Jesus Cristo, de cujo coração trespassado brota o amor de Deus (cf. Jo 19, 34).... . Encontramos, assim, uma primeira resposta, ainda bastante genérica, para as duas questões atrás expostas: no fundo, o « amor » é uma única realidade, embora com distintas dimensões; caso a caso, pode uma ou outra dimensão sobressair mais. Mas, quando as duas dimensões se separam completamente uma da outra, surge uma caricatura ou, de qualquer modo, uma forma redutiva do amor.”


Que pena que nem todos descobriram esta essência, esta identidade ágape do amor. E se alguém me perguntasse se eu mesma descobri, responderia:
- Certamente não por completo, mas ao menos a tenho tateado...


Beijo a todos os queridos!
Obrigado por fazerem da minha vida mais especial!
Paz e bem!

Nenhum comentário: